Há mais de vinte anos eu lido com o universo da criação. Sou da época em que as formas de expressão não eram tão fáceis e acessíveis como são hoje, onde cada um fala e repercute seus pontos de vista através de poderosas e gratuitas redes sociais espalhadas pelo mundo afora.
Antes, para que você emitisse uma opinião a respeito de qualquer assunto, provavelmente você teria que, de “próprio punho” criar, diagramar, escrever, ilustrar e produzir o seu próprio meio de comunicação, ou seja, o seu “fanzine”, para então ser lido, levado em consideração, repercutido, ou simplesmente descartado.
Designer e estilo
Havia também a possibilidade de ser convidado para escrever para um jornal ou revista, mas isso já era bem mais difícil. Para o público jovem, o termo “fanzine” certamente não é tão familiar, mas nada que uma “googlada” não resolva, simples assim né?
Simples hoje, simples agora e deverá ser cada vez mais simples daqui por diante, com este galopante (termo antiquado utilizado propositalmente por este missivista) avanço da tecnologia da informação, que facilita cotidianamente a vida não só dos opinadores de plantão, como de qualquer mero mortal que esteja online. Mas voltemos ao design de marcas e suas histórias.
Há vinte anos eu desenhava para mim, era um adolescente sem preguiça, desenhava pelo prazer, procurava aprimorar a técnica, fazer arte pela arte. Depois passei a desenhar para os outros, assim me tornei um fanzineiro, tinha a intenção de difundir as minhas idéias, convencer pessoas através de bons argumentos e boas imagens, construindo assim um rol de pessoas identificadas com as minhas causas.
Estilo próprio para desenho
A seguir, com as responsabilidades da idade adulta batendo à minha porta, tive que, como um alquimista, transformar chumbo em ouro, por isso passei a desenhar para um público que sequer sabia quem eu era, e muito menos que aquilo o que eu fazia era arte, estavam apenas preocupados em fomentar o consumo da maior quantidade de pessoas possível a fim de obterem lucro.
E foi assim que acabei na propaganda, começando então como assistente de arte. Passado algum tempo, e quase que como um “virtuose” da arte visual, passei a exercer a nobre, respeitável e tão cobiçada função de diretor de arte. Diretor, sim, aquele que dirige, pilota, mostra os caminhos, resolve os dilemas, responde questionamentos, trabalha até tarde, come muita pizza, e ao final, coleciona prêmios e elogios, mas quase nunca bons salários.
Fiquei nesta fase por um bom tempo, adquiri conhecimentos que me são úteis até hoje, aprendi a arte da argumentação, a arte da paciência (esta admito, um pouco menos), da versatilidade, da rapidez, da linguagem “de varejo”, do agrado ao diretor de criação e até a arte da tolerância, muito praticada com a ajuda dos atendimentos que conviveram comigo.
Nem sempre o seu designer vai agradar
Depois disso, naturalmente passei a buscar algo maior, alguma coisa que tivesse mesmo importância, algo edificante, algo que não existisse antes da minha participação, algo cuja minha intervenção fosse decisiva, ou melhor, fosse fundamental, sendo assim, parti para o design. Mas o design é amplo, dá margem a muitas interpretações distintas e com isso, muita gente se aproveita, se autointitulando designer.
Hoje existem designers de absolutamente tudo, designer de sobrancelhas, de pelos pubianos, de exteriores, de interiores, de legumes em barracas de feira, de tosa de cães, de iluminação, de escuridão, enfim, existem mil maneiras de se autointitular designer, invente uma, rerere… (me perdoem pessoal, mas foi uma recaída dos tempos de propaganda).
Chegando a este apaixonante universo que é o design, logo vi que a coisa não era tão linda assim, muita gente de parco talento, se apoiando em roupas coloridas, tatuagens, iPods, iPads, iPhone e o que mais desse aquele ar exótico, tão associado aos poderosos e relevantes criativos do design, tudo para acobertar suas inseguranças e fragilidades criativas.
Arte no desenho
Mas eu vinha da propaganda e lá também tinha este tipo de gente, e que por incrível que pareça, utilizava este mesmo “modus operandi” que visava o fortalecimento das suas imagens pessoais e externava de forma ostensiva os monstros criativos que gostariam de ser.
Ok, consegui deixar essa visão possivelmente preconceituosa e generalista de lado e passei a focar minha existência profissional apenas na criação de marcas, que foi a especialidade do design que escolhi para mim, afinal ali eu poderia, queria e provavelmente conseguiria fazer a tão almejada diferença, e desde então, passei a desenhar marcas, todos os dias da minha vida. Marcas boas, não tão boas, e até mesmo ruins, nesta vida, já fiz quase tudo, e ouçam o que digo, nunca assinem marcas ruins, até façam, mas nunca assinem.
Façam, cobrem, recebam, paguem suas contas e sigam a vida, mas nunca assinem pelo amor de Deus. Marca ruim é como catapora, ela até some, mas deixa marcas profundas em você, que todo mundo vê e o pior, sabe o que é.
Seja inovador com a sua arte
Marca boa não, é diferente, é para ser curtida, contemplada, e até mesmo ostentada, afinal de contas, para se chegar a ela, muitas e complexas fases devem ter sido transpostas, passando por um atento e descontaminado briefing, um bom insight criativo, um minucioso estudo de nomes, uma boa materialização gráfica, um belo acabamento, um detalhado estudo de aplicabilidade, ótimas argumentações conceituais, detalhadas análises estratégicas, e claro, a compreensão e aprovação do cliente.
Como tudo isso raramente se junta num só projeto, todas as vezes em que isso ocorrer, me ouçam, comemorem muito! Aqui, juntei algumas, mais precisamente quarenta marcas das quase duzentas que fiz nos últimos anos, para poder ilustrar o quão vasto e diverso é este universo onde a cada dia, criamos (sim, criar é isto), algo novo, algo que antes de você não existia, e após a sua ação, passa a não só existir, como a cativar, emocionar, comunicar… ou não.